“Se quiser descobrir o que é a verdade, devemos estar totalmente livres de todas as religiões, de todos os condicionamentos, de todos os dogmas, de todas as crenças, de toda autoridade que faz com que nos conformemos, o que significa, essencialmente, estar completamente sozinho, e isso é muito árduo…”

Estar sozinho é ser incorrupto, inocente, livre de toda tradição, de dogma, de opinião, daquilo que o outro diz, e assim por diante. Uma mente assim não busca, porque não há nada para buscar; uma mente assim, sendo livre, é completamente calma e imóvel, sem nenhum desejo, sem movimento. Mas esse estado não pode ser conquistado; não é uma coisa que você adquire com disciplina; não vem a existir por abstinência de sexo ou pela prática de certo tipo de ioga. Ele só vem a existir quando há a compreensão daquilo que é o ‘EU’, que se mostra por meio da mente consciente na atividade cotidiana, e também no inconsciente. O que importa é compreender por nós mesmos, não por meio da direção dada pelos outros, o conteúdo total da consciência, que é condicionado, que é o resultado da sociedade, da religião, de vários impactos, impressões, memórias – compreender todo esse condicionamento e livrar-se deles. Mas não há um “como” ser livre. Se você pergunta como ser livre, não está ouvindo.

Essas palavras desafiam o movimento da consciência humana tradicionalmente condicionado para aceitar a ideia de progresso espiritual, de realização ao longo do tempo, e de métodos para chegar lá. Elas desafiam o condicionamento do como se relacionar com a vida interior e consequentemente com a autoridade espiritual, a crença, a conformidade, a ideia de buscar a si mesmo. Compreender como nós somos, não como deveríamos ser, segundo as definições dos valores culturais, ideais religiosos e futuros projetados por nós próprios. Tais descobertas nos pedem para ser compreendidas, e não que aceitemos esse texto como verdade. Na última destas conferências uma pessoa que chegou a um impasse pergunta: E agora?

“Você está fazendo experiências com os meus ensinamentos, ou fazendo experiências consigo mesmo? Se você está fazendo experiências com o que estou dizendo, então deve chegar a este “E agora?” porque está tentando buscar um resultado

que pensa que eu tenho. Você pensa que tenho algo que você não tem, e que se fizer experiências com aquilo que eu estou dizendo, vai obtê-lo.

Mas você não está praticando meus ensinamentos. Não tenho nada a dizer. Ou melhor, tudo o que estou dizendo é: observe a sua própria mente, veja que profundidades ela consegue atingir; assim o importante é você e não os ensinamentos. É importante que você descubra sua própria maneira de pensar. E se você realmente estiver observando o seu próprio pensamento, se estiver olhando, experimentando, descobrindo, desapegando-se, morrendo a cada dia para tudo aquilo que acumulou antes, então nunca fará essa pergunta: “E agora? “

– Texto extraído do livro: Como nós somos (As one is): Libertar a mente de todos os condicionamentos – J. Krishnamurti.