A Libertação dos Apegos

O ilimitado poder criativo da consciência só pode operar quando não existem mais a limitação do apego, nem a identificação com os objetos. Com a libertação dos apegos, dá-se a descoberta de mais um dos valores eternos inerentes à consciência.

Devido ao fato de que quando não há liberdade interna os outros valores absolutos não podem florescer, no oriente, a libertação espiritual é considerada o objetivo fundamental da existência humana. A liberdade, como a felicidade, é buscada instintivamente pela vida confinada em quaisquer formas, o que indica que a liberdade é inerente à própria natureza do ser humano. Quando está livre do apego às coisas finitas, a consciência recupera seu estado natural e original.

A liberdade tem sido descrita como o estado natural do ser humano em obras sobre ioga, pois no estado de liberdade se manifesta tudo o que é inerente à consciência, inclusive valores ainda não mencionados. Sabedoria, amor, harmonia, pureza e plenitude são alguns dons naturais da consciência – além de liberdade, bem-aventurança e inteligência.

O despertar dos poderes latentes no homem é a descoberta da natureza pura e essencial da consciência. Este fato tem muito pouco a ver com o desenvolvimento de telepatia, clarividência e outros poderes e façanhas aparentes, que não trazem nenhuma mudança fundamental ao ser humano e tampouco expressam a glória de sua consciência. Por outro lado, ao identificar-se com a experiência de realizações nesse campo, o indivíduo se limita e permanece no campo da ilusão, porque toda forma de autoidentificação é ilusória.

Assim, o autoconhecimento é tanto negação como descoberta, e tanto renúncia como realização. É a negação do apego e da ilusão, e a descoberta da natureza verdadeira e dos poderes da vida interior. Através da negação total “dá-se a purificação da mente, não só num nível superficial, mas também em suas profundezas mais ocultas. Quando a mente é esvaziada de seu conteúdo acumulado, não mais existe o “eu”, o acumulador. Esse conteúdo, a memória acumulada, é o “eu” que, por sua vez, não é uma entidade independente do conteúdo acumulado….. a mente precisa estar completamente vazia para receber; mas a ânsia de se esvaziar para receber é um obstáculo profundamente arraigado, e isto também precisa ser compreendido como um todo, não em qualquer nível específico.

A ânsia pela experiência deve cessar por completo, o que só acontece quando aquele que experimenta não está se alimentando de suas experiências e memórias.

Quando existe uma real compreensão do eu e já houve a purificação, não existe “eu” no sentido usual do termo. Portanto, a própria palavra “autoconhecimento” não tem sentido nessa situação. Ela poderia sugerir a existência de um conhecedor que conhece o “eu” como um objeto de conhecimento.

Mas no estado em que há conhecimento profundo e verdadeiro, que é o estado da sabedoria, não há dualidade; não há “eu” a ser conhecido; não há conhecedor nem objeto do conhecimento. “O Real Conhecimento… não é um estado mental e sim um estado espiritual que implica plena união entre o Conhecedor e o Conhecido.

– Trecho extraído do livro: O Caminho do Auto Conhecimento – Radha Burnier