A Voz do Silêncio
A mente é a grande assassina do Real. Que o discípulo mate o assassino.
Porque quando para si mesmo a sua própria forma parece irreal, como o parecem, ao acordar, todas as formas que ele vê em sonhos; quando deixar de ouvir os muitos, poderá divisar o Um – o som interior que mata o exterior.
Então, e só então, abandonará o falso, para chegar ao verdadeiro.
Antes que a Alma possa ver, deve ser conseguida a harmonia interior, e os olhos da carne tornados cegos a toda a ilusão.
Antes que a Alma possa ouvir, a imagem (o homem) tem de se tornar surda aos rugidos como aos segredos, aos gritos dos elefantes em fúria como ao sussurro prateado do pirilampo de ouro.
Antes que a Alma possa compreender e recordar, ela deve primeiro unir-se ao Falador Silencioso, como a forma que é dada ao barro se uniu primeiro ao espírito do escultor.
Porque então a Alma ouvirá e poderá recordar-se.
E então ao ouvido interior falará A Voz do Silêncio e dirá:
Se a tua Alma sorri ao banhar-se ao sol da tua vida; se a tua Alma canta dentro da sua crisálida de carne e de matéria; se a tua Alma chora dentro de seu castelo de ilusão; se a tua Alma se esforça por quebrar o fio de prata que a liga ao mestre, sabe, ó discípulo, que a tua Alma é da terra.
Quando ao tumulto do mundo a tua Alma que desabrocha dá ouvidos; quando à voz clamorosa da grande ilusão a tua Alma responde; quando se assusta ao ver as lágrimas quentes da dor, quando a ensurdecem os gemidos da angústia, quando a Alma se retira, como a tartaruga tímida, para dentro da concha da personalidade, sabe, ó discípulo, que do seu Deus silencioso a tua Alma é um sacrário indigno.
Quando, já mais forte, a tua Alma vai saindo do seu retiro seguro; quando, deixando o sacrário protetor, estende o seu fio de prata e avança; quando, ao contemplar a sua imagem nas ondas do espaço, ela murmura, “isto sou eu” – declara, ó discípulo, que a tua Alma está presa nas teias da ilusão.
Texto extraído do livro A Voz do Silêncio – Helena Blavatsky