Lendas sobre um Salvador!

“Dentro de nós está o poder de nosso consentimento para a saúde e a doença, a riqueza e a pobreza, a liberdade e a escravidão.
Somos nós que controlamos isso, e não os outros.”

E o mestre continuou:

“Uma vez havia uma aldeia de criaturas no fundo do leito de um grande rio cristalino.

“A corrente do rio passava silenciosamente por cima de todos eles, jovens e velhos, ricos e pobres, bons e maus, a corrente seguindo o seu caminho, só conhecendo o seu próprio ser cristalino.”

“Cada criatura, a seu modo, se agarrava fortemente ás plantas e pedras do leito do rio, pois agarrar-se era o seu modo de vida, e resisitir á corrente era o que cada um tinha aprendido desde que nascera.”

“Mas uma das criaturas disse, por fim: ‘Estou farto de me agarrar. Embora não possa ver com os meus próprios olhos, espero que a corrente saiba para onde está indo. Vou soltar-me e deixar que ela me leve para onde quiser. Se me agarrar morrerei de tédio.’

“ As outras criaturas riram-se e disseram: ‘ Louco! Se você se soltar, essa corrente que você adora o lançará despedaçado sobre as pedras e sua morte será mais rápida do que a causada pelo tédio’

Mas aquele não lhes deu ouvidos e, respirando fundo, soltou-se, e imediatamente foi lançado e despedaçado pela corrente sobre as pedras!

“Mas com o tempo, como ele se recusasse a tornar e se agarrar, a corrente o levantou, livrando-o do fundo, e ele não se machucou nem se magoou mais.

“E as criaturas mais abaixo no rio, para quem ele era um estranho, exclamaram: ‘Vejam, um milagre! Uma criatura como nós, e no entanto voa! Vejam, é o Messias que chegou para nos salvar!

“E aquele que foi carregado pela corrente disse: ‘Não sou mais Messias do que vocês. O rio tem prazer em nos erguer á liberdade, se ousamos nos soltar. O nosso verdadeiro trabalho é essa viagem, essa aventura.’

“No entanto, cada vez exclamavam mais ‘Salvador!’ enquanto se agarravam ás pedras; quando tornaram a olhar, ele se fora, e eles ficaram sozinhos, inventando lendas sobre um Salvador”.

Texto extraído do livro “Ilusões, As Aventuras de um Messias Indeciso”.